Nessa e na passada década, é fato que os filmes de herói da Marvel ganharam bastante destaque. Com "Homem-Aranha", "X-Men" e "Quarteto Fantástico", a história dos gibis, sendo adaptada às telas, sofrera várias mudanças, como a morte de muitos antagonistas ou personagens-chave. Nos ano de 2005 e 2008, contudo, o diretor Christopher Nolan (em "Batman Begins" e "O Cavaleiro das Trevas") realizou uma enorme recriação desses princípios até então vigentes nas adaptações, trazendo maior fidelidade aos quadrinhos e diferente análise da personalidade heroica, revendo as origens do Batman. Complementando esse novo olhar surge "Homem de Ferro", de John Favreau, que representou o renascimento dos longas Marvel com o novo ideal de conectar suas produções, seja com ocultas referências ou com cenas pós-créditos que claramente deixavam pistas sobre os filmes vindouros.
Sutilmente aparecem, a seguir, personagens como o líder de uma misteriosa agência militar (a S.H.I.E.L.D.), o Nicholas Fury de Samuel L. Jackson que, com seu tapa-olho e sobriedade, introduz o conceito de unir os mais poderosos da Terra para defender o planeta de eventuais ameaças. Essa ideia culmina num ousado golpe da Marvel Studios - a terceira maior bilheteria da história, resultado de amplo planejamento: arriscada união entre super indivíduos na equipe dos
VINGADORES - THE AVENGERS
Os salvadores da Disney
Menos populares que a Liga da Justiça, a Marvel tinha a missão de apresentar os desconhecidos membros dos Vingadores - grupo cuja história, notadamente no Brasil, era ainda incógnita - ao grande público. E fez isso magistralmente. A Viúva Negra de Scarlett Johansson conquista a aptidão dos espectadores pela engimática sensualidade assim como o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), que apareceu pela primeira vez em "Thor" de forma rápida e coadjuvante, com um estilo misterioso e atributos de anti-herói. O arqueiro é manipulado para roubar o Cubo - aquele mesmo que jazia congelado em "Capitão América", uma terrível fonte cósmica de energia. Como tal, desperta a ambição de Loki, que é resgatado dos confins do universo para que, com seus poderes, rumasse à Terra e recuperasse o Cubo; o vilão aqui é bem mais feroz, vivido com ares excêntricos por Tom Hiddleson. O antagonista é meio-irmão do Thor (Chris Hemsworth), que admite a adoção de Loki na polêmica cena em que reconhece as atrocidades do lunático.
Para construir essa narrativa, o diretor Joss Whedon precisou acoplar todos os elementos dos outros filmes, realizando de modo objetivo e evidente, completamente coesivo com tudo o que acontecera nas histórias anteriores. A principal missão de Joss (e um dos motivos pelos quais era pouca a cogitação em se fazer um filme com essas características), também cumprida, foi a de trabalhar a personalidade cada um dos protagonistas, cada uma tão discrepante da outra que chega a ser paradoxal: a vaidade, narcisimo, despreocupação e humor satírico de Tony Stark (Robert Downey Jr. - que atinge o auge de sua carreira, faturando mais dinheiro que o restante do elenco com esse megasucesso) contra a brandura, modéstia e discrição do Capitão Steve Rogers (Chris Evans), também oposta à presunção, impaciência e audácia do filho de Odim que traça paralelo à serenidade e placidez de Bruce Banner - doutor em física que tenta manter controlado o indócil monstro verde dentro de si.
Curiosamente, Banner é vivido pelo ator de "Onde Vivem Os Monstros", Mark Ruffalo, que assume o papel após duas tentativas falhas de interpretar Hulk; o Bruce de Ruffalo parece não sofrer tanto por carregar a criatura no interior, que agora está assaz feroz, porém ajuizada e contida, cultivada pela raiva do doutor para que não fuja do controle, mantendo sua fúria direcionada unicamente aos inimigos. Os efeitos da Industrial Light & Magic, da Lucasfilm., criam com realidade o terrível ser verde, a armadura de Stark, os fantásticos poderes sobrenaturais de Thor e um punhado de naves em batalhas devastadoras numa instigante exposição de fascinante visual 3D, muito bem filmado que realmente traz a sensação de mergulhar o espectador na tela, auxiliado pelo som adequadamente mixado.
O 3D ilustra uma massiva invasão de fora do planeta à cidade que mais sofreu com a fúria alienígena na história de Hollywood. Em Nova York ocorre o combate entre os Vingadores e centenas de extraterrestres empunhando armamento pesado, flutuando em espaçonaves e escoltados por gigantescas larvas robóticas voadoras.
Contudo, é necessário expurgar do imaginário dos diretores a ideia de usar portais para transportar exércitos ou planetas para a Terra; o artifício já foi usado em 2011/2012 desde séries como "Smallville" e "The Event" até "Transformers 3 - O Lado Oculto da Lua" e, mais uma vez, em "The Avengers", tornando-se um recente clichê; aliás, Joss Whedon mostra uma boa capacidade de explorar clichês - como a guerra por Nova York e a exaltação ao patriotismo norte-americano. Por isso ergue-se a terceira maior bilheteria da história com os heróis que, acima de tudo, salvam a Disney do fracasso de bilheteria "John Carter: Entre Dois Mundos" por Andrew Stanton, cujos poucos lucros geraram demissões e um déficit de duzentos milhões de dólares para os cofres do estúdio - o qual exalta Vingadores como seu troféu, uma fórmula que provou funcionar fora das HQs e que, inclusive, gerou resposta da Warner/DC, que planeja um futuro Liga da Justiça com roteiristas já contratados.
E consagra Joss e sua competência em valer-se do senso comum e manter um filme coerente, divertido, que entretém com suas sequências de ação, piadas bem feitas, roteiro estruturado - que não decepciona os fãs, satisfaz as expectativas e, principalmente, é capaz de surpreender; com deixa para um segundo longa, a arriscada tentativa da Marvel em unir seus astros funciona e ascende ao histórico pódium da sétima arte, vingando John Carter e faturando bilhões para os cofres Walt Disney.
Crítica por Murillo JAF.